
Luis Campos e Cunha, licenciado em Economia
pela Universidade Católica de Lisboa,
e doutorado pela Columbia University of New York.
Foi o primeiro Ministro das Finanças do Governo de José Sócrates.
"Em Portugal, a origem da crise e do resgate está na política orçamental
completamente desastrosa, sobretudo a partir de 2008."
"Portugal teve azar em ter um Governo muito eleitoralista e com eleições no final de 2009. O Governo começou a prepará-las logo em 2008, com a redução do IVA no primeiro trimestre. Devo ter sido quase a única voz que se levantou contra a medida, alertando que era demasiado prematura e que o sistema financeiro poderia necessitar de algum apoio do Estado, como estava já a ser previsto em diversos países em consequência da crise do subprime nos EUA. Após a falência do Lehman Brothers, em Setembro de 2008, instalou-se uma onda de pseudo-keynianismo na política económica mundial que caiu como sopa no mel a um Governo que está à beira de eleições e que passou a gastar sem restrições. A primeira má surpresa surge em Janeiro de 2010, quando o défice de 2009 foi revisto em alta até 9,2%."
Aí começaram as desconfianças dos mercados?
"Sim, os mercados, ou melhor, os nossos credores começaram logo aí a desconfiar de Portugal. A seguir às eleições, com a expectativa de que iria durar poucos meses, o Executivo cedeu a uma série de interesses - médicos, enfermeiros ou professores - que receberam amplas benesses entre o final de 2009 e início de 2010. Depois, o primeiro Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC), de Março de 2010, era muito fraco e não atacou o problema a sério. Em Abril, a S&P desce em dois níveis o rating da dívida e, a partir daí, foi uma bola de neve . O Governo reagiu sempre tarde aos acontecimentos e, quando se reage tarde, não se é credível e isso é terrível para a reputação de um país. Estava nas cartas já nos finais de 2010 que Portugal teria de pedir ajuda internacional."
A banca foi uma vítima ?
"Foi totalmente vítima da política orçamental irresponsável do Governo. No fim de 2009, os bancos mostraram que tinham feito uma avaliação do risco muito cuidada face aos alemães, norte-americanos ou ingleses. Mas, em Abril de 2010, o rating de Portugal baixa em dois níveis, obrigando a uma descida do da banca. O sector vê os mercados de financiamento fecharem-se e fica a braços com problemas de funding e de concessão de crédito."
Os portugueses já tomaram consciência do que aí vem?
"Sabem que a situação é muito difícil, com taxas de desemprego recorde, subidas de impostos brutais e redução de apoios sociais. O que aí vem, nem eu sei - e sou professor de Economia! Para já, temos garantidos pelo menos cinco anos de crescimento muito anémico; se as coisas não correrem bem, serão dez."
É imperativo um Governo ou coligação maioritária para aplicar as medidas do FMI?
"Não sou a favor de um centrão no poder, mas, em momentos dramáticos como este, pode ser preciso um bloco alargado e amplamente consensual no Parlamento que consiga conduzir o país durante três ou quatro anos."
E é possível um governo de Bloco Central com os actuais responsáveis políticos?
"Não será possível com José Sócrates. Sócrates é o problema e com ele não haverá qualquer coligação possível. Se o PS perder as eleições por larga margem, é natural que mude de secretário-geral. Se perder por margem curta ou ganhar as eleições, Sócrates continuará."
Como avalia o trabalho de Teixeira dos Santos?
"Teixeira dos Santos foi um mero executor da política orçamental de Sócrates. Qualquer pessoa que me sucedesse tinha de aceitar que Sócrates era o ministro das Finanças.
É a Sócrates que devem ser atribuídas as responsabilidades pela situação do país."
23 de Abril, 2011Por Luís Gonçalves
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