Saturday, 28 November 2015

Interesse de Portugal? Esquece este "patriotismo". Só há a ambição do PODER do Costa. Silenciar todo o resto.


Governo de legislatura para reformar Portugal? 
Não tenham ilusões: 
a equipa de Costa é "de combate", ~
mas a pensar em eleições a curto prazo. 
Isto é, na altura em que uma crise 
for mais favorável ao PS
Abriu-se um tempo em que, na política portuguesa, 
não vai apenas existir acrimónia ~
– vai deixar de haver escrúpulos e muito menos vergonha. 
Tudo sob a batuta de António Costa.
Tudo tendo em vista um e só um objectivo: 
o poder e o seu exercício.
Costa começou por assaltar o seu partido e, 
depois, por tomar São Bento, 
atirando borda fora, pelo caminho, 
qualquer princípio ou qualquer fidelidade 
à matriz identitária do PS. 
Faltava conhecer a composição do Governo 
e o seu registo político. 
Agora que isso aconteceu, não restam dúvidas. 
Primeiro, Costa não escolheu um governo 
para durar uma legislatura 
e reformar o país 
– formou antes uma equipa de combate político 
recheada de fiéis e pontuada por trauliteiros. 
Depois, Costa não tenciona governar 
a não ser para preparar as próximas eleições, 
venham elas mais tarde ou mais cedo –
 idealmente quando o PS considerar mais favorável.
Comecemos pelas suas escolhas para o Governo, 
algumas das quais são de nos deixar com os cabelos em pé. 
Como é possível, por exemplo, 
ir recuperar Augusto Santos Silva, 
uma espécie de ministro “todo-o-terreno” 
que deixou má memória em todos 
os ministérios por onde passou 
(eu não me esqueço, por exemplo, 
de como tentou fazer aprovar aquilo 
que seria uma verdadeira “lei da mordaça” para os jornalistas, 
ou de como se bateu até ao fim, até aos tribunais, 
contra práticas de transparência no Ministério da Educação, 
só para citar dois exemplos)? 
Como é possível que o político ~
que se distingue por gostar “de malhar”
 nos adversários políticos vá chefiar a diplomacia? 
Será para fazer companhia a Eduardo Cabrita, 
outro político que costuma ter como principal argumento 
o ser capaz de gritar mais alto no Parlamento?
E que dizer do enorme número de ex-governantes de Sócrates 
que estão de regresso? 
Façamos a lista: Augusto Santos Silva, 
que fazia parte do seu núcleo político; 
Vieira da Silva, 
que se preparava para substituir Teixeira dos Santos 
quando este se começou a recusar a alinhar na loucura 
que nos atirou para a bancarrota; 
Ana Paula Vitorino, que estava nas Obras Públicas 
– as famosas Obras Públicas de Mário Lino; 
e ainda Eduardo Cabrita e Manuel Heitor, 
para além de Teresa Ribeiro,
 Marcos Perestrello e Luís Medeiros Vieira, 
estes últimos apenas ao nível de secretarias de Estado.
Mas há mais e mais grave. 
Há Azeredo Lopes, 
outra figura conhecida pela sua truculência 
(o que o recomenda por certo para a pasta da Defesa) 
e que, como presidente 
da Entidade Reguladora da Comunicação Social,
 foi sempre um escudo protector do governo de Sócrates 
e alguém que militantemente tratou de limitar 
a liberdade dos jornalistas. 
Sendo que ainda falta citar Miguel Prata Roque, 
uma verdadeira cereja em cima do bolo 
pois trata-se do advogado que representa José Sócrates 
no processo que intentou contra o Correio da Manhã, 
um processo destinado a silenciar 
aquele órgão de informação.~
 Jornalistas, cuidem-se: 
não terão de lidar apenas 
com o mau feitio do primeiro-ministro 
sempre que é contrariado ou confrontado pela imprensa.
Claro que nenhum destes novos governantes 
viu chegar a bancarrota de Sócrates. 
Claro que nenhum deles terá estranhado o modo 
e padrão de vida do antigo primeiro-ministro. 
Claro que nenhum se incomodou com o estilo ácido 
e divisão de fazer política do agora arguido 
a contas com a Justiça –
 muitos até foram os rostos dessa forma 
de governar à “animal feroz”, 
um estilo que parece querer regressar em força.
Francisca Van Dunen, o ver para crer – 
isto é, se o que se pretende não é 
antes domesticar o Ministério Público.
Quem não se lembra como Costa actuou 
durante o caso Casa Pia. 
 Antes das eleições, 
tenha convidado a procuradora-geral de República,
 Joana Marques Vidal, 
para uma reunião na sede do PS 
— reunião que esta sensatamente recusou.
Mas as ligações aos governos de Sócrates são aqui o detalhe. 
O essencial é percebermos até que ponto este executivo 
constrói o seu “corpo de combate” com base em três pilares: 
os fiéis de Costa, 
que ele foi recuperar um pouco por todo o lado;
 os socráticos que nunca se arrependeram; 
e alguns jovens turcos, como Pedro Nuno Santos, 
que ganharam os seus galões 
fazendo dentro do PS um discurso 
que o Bloco de Esquerda subscreveria sem hesitar.
Claro que há mais nomes, 
e muitos são figuras respeitáveis. 
Isto mesmo sendo notória a dominância 
dos políticos profissionais 
e dos funcionários públicos, 
sendo muito raros aqueles que alguma vez conheceram 
o mundo real de uma empresa ou de projectos 
não dependentes de dinheiros públicos. 
É certo que são socialistas, 
mas não deixa de ser significativo que, 
em 17 ministros, 
só dois tenham tido experiências episódicas de gestão 
fora do sector público (mas não muito longe dele).
De novo o essencial também não é esse desfasamento 
com a realidade da maioria dos portugueses que, 
nestes anos de crise, “se viraram” 
e fizeram realmente pela vida e pelo país, 
tal como não é um ou outro erro decasting na equipa 
(como é que um académico que está há 15 anos fora do país 
e de quem não se conhece pensamento sobre o sector 
aterra no Ministério da Educação?). 
O essencial é que o “governo de combate” será, 
como foi bem visível no discurso de posse de António Costa, 
um governo que não olhará a meios para atingir os seus fins 
– um governo com muita gente que tem a mesma falta ~
de escrúpulos que Costa teve em todo este processo.
António Costa teve o desplante de dizer que 
“não é altura de salgar as feridas, mas sim de sará-las”, 
isto enquanto não fez outra coisa que não dar ferroadas e, 
no que à boa educação diz respeito, 
ficar-se pelos mínimos protocolares.
O homem que abriu na política portuguesa uma trincheira 
própria de inimigos onde antes estava apenas a distância ~
de duas visões políticas diferentes, 
apelou à unidade e à responsabilidade 
enquanto ia dando caneladas.
É por isso que não é difícil adivinhar o que deverá vir por aí. 
Catarina Martins, 
que funciona nestas coisas como uma espécie 
de guarda avançada 
que vai desbravando caminho 
e fala como se fosse a nova “dona disto tudo”, 
já anunciou que vão ser descobertas “surpresas”. 
Não me custa muito adivinhar que “surpresas” 
o Governo está tentado a encontrar: 
tudo o que justifique um défice acima de 3%. 
Mais: essa é a “surpresa” que pode ser “fabricada”, 
mesmo que só reste um mês para tomar 
decisões e assinar cheques.
 Mas como se está no fio da navalha, 
basta não querer atingir essa meta 
para que nos mantenhamos acima dos 3% de défice.
O que é do interesse do país? 
Sair do grupo dos “défices excessivos”, 
logo ficar abaixo dos 3%.
O que é do interesse de um PS a pensar em toda a legislatura? 
Fazer o mesmo, pois ganharia margem de manobra 
lá para a frente.
O que é do interesse de um PS a navegar à vista? 
Um défice acima de 3% pois isso permitir-lhe-á 
tentar culpar o governo anterior 
e ter um ponto de partida mais favorável para 2016, 
o ano que, para já, é preciso garantir.
Mas se este será o primeiro teste, 
o discurso já começou a ser feito para o momento decisivo, 
aquele que surgirá lá mais para a frente, 
o que virá quando os números não baterem certo 
entre o que nos é exigido na Europa ~
e o que exige a extrema-esquerda: 
o discurso do pedido de socorro ao PSD e ao CDS, 
em nome do superior interesse nacional. 
E vai ser assim porque PS, Bloco e PCP 
vão estar a marcar-se permanentemente, 
cada um à procura do momento ideal 
para atirar o ónus de uma crise
 para um dos parceiros ou, idealmente, 
para os que, tendo ganho as eleições de 4 de Outubro, 
foram postos à margem.
É neste jogo que valerá tudo, até arrancar olhos. 
É também neste jogo que Portugal tem muito a perder. 
Mas Portugal, como se viu nestas semanas, 
não faz parte da equação, 
pois esta só tem uma variável: 
ter e exercer o poder.
José Manuel Fernandes

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