Pedro Passos Coelho, ex-PM
Marcelo Rebelo de Sousa,
Presidente de Republica
Passos é outra vez contra a oligarquia, conta os elites de Portugal,
e mais uma vez por causa de um banco.
No caso do BES:
Foi apenas há dois anos, mas muitos parecem esquecidos.
Ricardo Salgado, com a corda na garganta, fez o habitual:
ligou à ministra das Finanças, depois ao primeiro-ministro.
Objectivo? Conseguir um empréstimo da Caixa Geral de Depósitos
que lhe desse a ilusão de que ainda podia salvar um grupo afogado em dívidas.
Antes já tinha conseguido que os seus amigos na administração da PT
lhe dessem uma mão,
assim afundando aquela que chegou a ser a maior empresa nacional.
Só que agora nem sequer a conspícuo ideia
de que seria possível “por o Moedas a trabalhar”
surtiu qualquer efeito:
nem Moedas, nem Maria Luís, nem Passos Coelho
permitiram que a Caixa “desse uma mão” a Ricardo Salgado
e ao Grupo Espírito Santo.
Ou, visto a esta distância,
não permitiram que a Caixa se enterrasse ainda mais,
acompanhando na desgraça um grupo que estava condenado
por megalomania, excesso de endividamento
e fraudes várias.
Passos diz NÃO, a ganhou mil inimigos,
por ter tido a coragem de ter ido contra os maus costumes de sempre.
O que se passou há dois anos rompeu uma regra
– a regra de que os governos usavam a Caixa a seu belo-prazer,
lhe davam ordens políticas
e a viam como uma espécie de coutada
para recompensar alguns ex-ministros
ou realizar negócios de duvidosa rentabilidade
mas garantido alcance político.
A promiscuidade atingiu o seu apogeu no tempo do governo
que nos conduziu à bancarrota
e a forma de actuação foi em tudo coerente:
o desvario que colocou o país nas mãos da troika
foi o mesmo desvario que levou a Caixa a envolver-se em negócios ruinosos;
a obsessão pelo poder que levou o governo de Sócrates a aldrabar contas
e distribuir benesses foi a mesma obsessão pelo poder
que levou esse mesmo Sócrates a utilizar a Caixa
para controlar a banca e, através dela,
tentar controlar também toda a comunicação social.
É por isso que é bom ter memória e, se preciso for,
dedicarmos-nos um pouco à arqueologia.
Um país onde o governo se recusa a aprender
com os erros do passado,
ou recusa mesmo admitir que eles tenham existido,
é um país condenado a sofrer repetidamente
as dores da queda no abismo.
É por isso também que convém recordar alguns factos,
entre os muitos que merecem ser melhor apurados
e outros tantos que necessitam de ser investigados.
Por mais que o governo queira, o passado não o larga,
nem nos larga a nós.
Quando todos queremos olhar para o futuro,
a Caixa leva-nos de volta à “arqueologia socrática”.
Foi entre 2005 e 2010, com Sócrates em São Bento,
que a Caixa mais perdeu dinheiro.
O modo como o governo de então tratou o banco do Estado
mostra muito bem o sentido de impunidade dos anos de Sócrates.
O engenheiro colocou no banco um amigo
e camarada, Armando Vara, sem qualquer qualificação
que o recomendasse para o cargo.
Essa administração emprestou dinheiro a Berardo
para comprar acções do BCP.
Depois, como accionista de referência do BCP,
Berardo votou a favor daqueles que lhe concederam créditos
para integrarem a nova administração do BCP.
Eis, o nosso capitalismo socialista no seu melhor.
Ainda falam eles do “capitalismo selvagem”.
Sabem muito bem do que falam.
– A CGD “emprestou em 2006 quase 300 milhões de Euros para Vale de Lobo.
Além de dar crédito, a CGD tornou-se accionista.”
– A CGD concedeu igualmente um crédito de 476 milhões de Euros
a uma empresa espanhola, a Artlant, para construir uma fábrica em Sines.
Tal como com Vale de Lobo, a CGD tornou-se accionista.
– Emprestou cerca de 800 milhões de Euros ao grupo Espírito Santo,
ao grupo Lena e ao empresário angolano António Mosquito,
os quais nunca serão recuperados.
– Emprestou ainda cerca de 360 milhões de Euros a Joe Berardo
para comprar acções do BCP.
Outro crédito que jamais será recuperado.
Ou seja, à volta de 2 mil milhões de Euros perdidos.
Quem vai pagar estas perdas?
Nós. Todos os portugueses.
O governo acabou de nos informar
que vamos ter que injectar 4 mil milhões de Euros na Caixa.
Para onde foram os 2 mil milhões?
Quem ganhou dinheiro com estes “empréstimos”?
O governo não quer que os portugueses saibam
NADA sobre o que se passou.
Parece que, para o governo do Costa e a geringonça dele,
os portugueses servem para votar e para pagar.
De resto, devem ficar calados
e aceitar tudo na santa ignorância.
Este é o grande problema para Costa:
a discussão das causas que levaram à necessidade
de os portugueses pagarem 4 mil milhões de euros
para salvar a Caixa, faz-nos regressar ao mundo socialista
que provocou um resgate e quatro anos de austeridade.
O “resgate” dos portugueses à Caixa faz recordar “2011”.
Por isso, a Caixa será o maior problema politico para o governo.
E António Costa já o percebeu.
O PM, porém, continua a dizer que a Caixa é um banco de referência
para a estabilidade financeira nacional.
Um banco de referência torna-se accionista de um projecto turístico algarvio?
Torna-se sócio de uma empresa espanhola privada num projecto petroquímica?
Empresta dinheiro a um empresário para comprar acções no BCP?
Coloca na administração do banco um militante do PS,
sem o mínimo de qualificações?
Isto é gozar com os portugueses.
A teimosia de Passos Coelho está a assustar a oligarquia nacional.
Já começaram as pressões para o PSD desistir da comissão de inquérito parlamentar.
Até já se fala em potenciais sucessores na liderança dos sociais-democratas.
A antipatia de muitas elites políticas em relação ao anterior PM
não tem nada a ver com questões ideológicas ou doutrinais.
As nossas elites são demasiado cínicas para levar ideias políticas a sério.
Foi o modo como lidou com o BES que fez de Passos um problema para a oligarquia.
E agora está a comportar-se do mesmo modo em relação à Caixa.
A verdade assusta muita gente.
E quem não se incomoda com a verdade torna-se uma ameaça.
O Presidente da República está perante o momento mais
importante desde que chegou a Belém.
Vai ajudar a silenciar o que os anos Sócrates fizeram à Caixa?
Ou vai tratar os portugueses como cidadãos adultos
com o direito de saberem a verdade?
Sobretudo quando lhes pediram para pagar 4 mil milhões de euros
sem nada terem feito para isso.
Tal como outros povos,
um dia os portugueses também se vão zangar.
Para quem julga que a paciência dos lusitanos é inesgotável,
estude com atenção o que se está a passar no Brasil com o Lava Jato.
No outro lado do Atlântico,
muitos dos que se julgavam impunes
estão hoje na prisão ou sob investigação.
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